Casal resistiu à cheia durante mais de dois meses, mas abandonou o imóvel por causa da falta de perspectiva para retomada da vida normal

Vivendo em fazendas às margens do Rio Paraná, na região de Batayporã, há 23 anos, Alucimara da Silva Costa e o marido José Carlos teimaram durante quase três meses e enfrentaram os alagamentos na esperança de que a água baixaria logo, como ocorrera em anos anteriores.

Porém, no começo de maio deram o braço a torcer e abandonaram a casa, deixando para trás somente duas dezenas de frangos, quatro patos e duas galinhas de angola, que agora são os únicos “moradores” da casa na fazenda Pirasol. Durante o pico das cheias, se abrigavam sobre carroças, muretas e o telhado da casa.

De janeiro ao final de abril a casa deles foi invadida três vezes, chegando a cerca de 30 centímetros de água na parte interna do imóvel. Atualmente, apesar de o Rio Paraná ter voltado ao leito normal, uma lagoa com cerca de cinco hectares circunda parde da residência. 

E, além das aves, a casa é habitada por enxames de mosquitos que se reproduzem na água parada no entorno do imóvel. Pelo menos dois jacarés também podem ser vistos no lago, mas não são moradores do local, faz questão de enfatizar Alucimara.

A reportagem somente a encontrou na antiga residência porque estava cansada com a solidão do imóvel que conseguiu emprestado cerca de sete quilômetros rio acima e por isso resolveu “contratar” um técnico para ir buscar a antena parabólica e ativar a TV que já havia levado dias antes. 

Alucimara explicou que abandonou a casa porque não suportava mais o mau cheiro da lama e porque não havia perspectiva de o rebanho retornar à fazenda, que segue parcialmente submersa e sem alimento para o gado. 

Mas, ressalta que regularmente ela e o marido levam alimento para as galinhas e patos, que insistentemente seguem qualquer um que caminha pelo local na esperança de receberem a tão esperada refeição, já que a água matou toda a vegetação que poderia servir de alimento na vastidão da fazenda. 

Os móveis da casa de Alucimara continuam todos suspensos dobre tijolos e banquetas de madeira. O guarda roubas repousa sobre uma das camas. Boa parte dos eletrodomésticos foram levados para a nova residência. 

E apesar do drama, só fala em gratidão. “Graças a Deus que durante os piores dias de cheia teve gente que ofereceu lugar pra gente dormir em lugar seco. Agora, então, nem sei como agradecer a esse pessoal que nos ofereceu casa. As pessoas são muito boas”, fala Alucimara enquanto mostra as marcas nas paredes deixadas pela cheia do Rio Paraná, que inundou tudo da noite para o dia nas três vezes que subiu com força. 

Alucimara da Silva Costa retorno à antiga casa somente para retirar a antena parabólica e não sabe se ou quando vai retornar – Marcelo Victor

Ela não soube informar a quantidade de animais que foram retirados da fazenda em que trabalhava, mas sabe que todos foram removidos e que a maior parte foi vendida. Até cavalos tiveram de ser vendidos porque faltava pasto e vai demorar muito até que a situação se normalize. 

A casa de Alucimara foi invadida depois que a Cesp abriu as comportas da usina de Porto Primavera, que fica a cerca de 80 quilômetros rio acima. O comando da hidrelétrica alega que foi obrigada a liberar a água por conta do excesso de chuvas e porque as usinas acima fizeram o mesmo. 

As comportas ficaram abertas durante mais de 90 dias e no pico das chuvas chegaram a ser liberados 14,7 mil metros cúbicos de água por segundo, sendo que o normal é de 4,6 mil metros cúbicos por segundo.

Não são somente as aves de Alucimara que esperam anciosas pelo alimento. Por causa da cheia, pelo menos 15 familias que vivem da pesca e agricultura de subsistência em ilhas e às margens do Rio Paraná também estão dependendo da doação de cestas básicas, segundo o chege da Defesa Civil de Batayporã, Gilberto Batista dos Santos. 

“Algumas vivem em ilhas do lado paranaense, mas a gente está fornecendo cestas básicas também para elas porque perderam todas as lavouras de milho, mandioca, abóboras e outras culturas de subsistência. Alguém precisa dar suporte a estas famílias, afirmou Gilberto, que prepara outra entrega para a próxima semana. 

CORREIO DO ESTADO. Só sobraram frangos, patos e galinhas de angola. Disponível em:<https://correiodoestado.com.br/cidades/so-sobraram-francos-patos-e-galinhas-de-angola/415416/>. Acesso em: 25.Mai.2023.

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