Queda nos preços dos alimentos levou à redução no acumulado de 12 meses; a última havia sido em 2018
Os preços da alimentação no domicílio acumularam deflação de 1,70% no período de 12 meses até agosto, em Campo Grande. A queda está acima da média nacional, que apresentou redução de 0,62% no mesmo intervalo. É o primeiro resultado deflacionário no subgrupo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desde 2018.
Ao analisar os dados divulgados nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é possível perceber que, no comparativo mensal, os preços da alimentação no domicílio caíram 2,01% na Capital em agosto deste ano. Foi a quarta queda consecutiva, após recuo de 0,17% em julho, de 1,54% em junho e de 0,23% em maio.
No acumulado do ano, a redução é de 3,97% em Campo Grande e de 1,82% na média brasileira. O gerente da pesquisa do IPCA, André Almeida, associou o quadro a uma oferta maior de alimentos no Brasil.
As melhores condições climáticas resultaram em produção agrícola recorde, o que, segundo o pesquisador, gera alívio para o bolso dos consumidores.
“De maneira geral, a gente pode dizer que a queda dos preços alimentícios tem sido influenciada pela maior oferta [de produtos] no mercado”, afirmou Almeida.
A alimentação no domicílio chegou a registrar inflação de 22% em Campo Grande, em janeiro de 2021 (considerando o acumulado de 12 meses), e de 19,17% no Brasil, no mesmo período. Na época da pandemia de Covid-19, as pessoas passaram a comer mais em casa do que fora, o que explica a disparada de preços no período.
REFLEXO
Entre os produtos que baratearam a compra mensal na Capital sul-mato-grossense estão: cebola, frango, batata, óleo de soja, feijão e carnes, que tiveram quedas expressivas nos primeiros oito meses de 2023.
A cebola lidera a lista dos produtos com maior queda no prato dos sul-mato-grossenses. A redução no ano é de mais da metade do preço aplicado no ano passado (-51,8%).
Na sequência, aparecem tubérculos, raízes e legumes (-21,3%), óleo de soja (-20,1%), batata-inglesa (-18,4%) e frango inteiro (-17,9%). Outros produtos que tiveram queda de valor acima de 10% em Campo Grande foram as carnes em geral (-10%), o feijão-carioca (-17,1%), a costela bovina (-15,6%), a maçã (-15%), o frango em pedaços (-14,9%) e a melancia (-13,5%).
“Temos observado quedas ao longo dos últimos meses em alguns itens importantes no consumo das famílias, como a carne bovina e o frango, cuja deflação está relacionada à oferta. A disponibilidade de carne no mercado interno está mais alta, o que tem contribuído para a queda nos últimos meses”, conclui Almeida.
A economista da CM Capital, Carla Argenta, aponta que o comportamento de deflação dos alimentos nesse período já é esperado. “Nesta época do ano, fatores sazonais beneficiam a trajetória dos preços de alimentos. Apesar do movimento esperado, é necessário frisar que a magnitude, de fato, é acentuada para o período e foi motivada por itens que não costumam evoluir positivamente durante o inverno”.
FORA DE CASA
A alimentação fora do domicílio também integra o grupo alimentação e bebidas. Esse segundo subgrupo subiu 0,08% em Campo Grande, no IPCA de agosto, e 0,22% na média nacional.
A alimentação fora do domicílio pode sofrer pressões da demanda maior pelos serviços de bares, restaurantes e lanchonetes, que tiveram retomada após a crise da pandemia.
No acumulado deste ano, comer fora de casa ficou 3,15% mais caro na Capital e 3,85% na média brasileira. Já no período dos últimos 12 meses, terminados em agosto, a alimentação fora do domicílio aumentou 5,64% em Campo Grande e 5,78% no recorte nacional.
No geral, a inflação de agosto foi de 0,23% no País, abaixo do que era projetado pelo mercado, e 0,11 ponto porcentual acima da taxa de 0,12% registrada em julho. No ano, o IPCA acumula alta de 3,23%.
Em Campo Grande, o IPCA foi a 0,27% no mês passado e a 3,07% nos oito meses de 2023. No acumulado de 12 meses, o índice acumula inflação de 3,98% na Capital.
De acordo com a economista, com o corte pequeno na Selic, que foi reduzida a 13,25% ao ano em agosto, ainda há influência positiva dos juros sobre a inflação com o encarecimento do crédito destinado aos consumidores.
“Tem inibido o acesso a bens como eletrodomésticos e eletroeletrônicos, que, como é sabido, são extremamente sensíveis às variações do ciclo econômico e às alterações da taxa de juros. O que corrobora com o enfraquecimento da inflação nos meses mais recentes”, finaliza Carla.
Alimentos aliviam inflação para os mais pobres, aponta Ipea
Agência brasil
Os comportamentos dos preços de alimentos e bebidas, em agosto, contribuíram para que a inflação das famílias mais pobres fosse menor do que a das rendas média e alta. A conclusão faz parte de um levantamento divulgado nesta quinta-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O peso da inflação para as famílias de renda domiciliar muito baixa (menor que R$ 2.015) foi de 0,13%, abaixo de 0,23% medido pelo IPCA, considerado a inflação oficial do País e calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já para as famílias de renda média alta (entre R$ 10.075 e R$ 20.151), a inflação em agosto foi de 0,32%.
De acordo com a pesquisadora Maria Andreia Lameiras, o principal alívio inflacionário em agosto veio das deflações de alimentos e bebidas, ou seja, produtos que ficaram mais baratos.
As principais quedas de preço foram dos tubérculos (-7,3%), carnes (-1,9%), aves e ovos (-2,6%) e leites e derivados (-1,4%). Como grande parte do orçamento das famílias mais pobres é consumida com a alimentação, a deflação desses itens faz grande diferença no bolso dessas pessoas.
CORREIO DO ESTADO. Alimentação em casa acumula deflação de 1,70% na Capital; primeira em 5 anos. Disponível em:<https://correiodoestado.com.br/economia/alimentacao-em-casa-acumula-deflacao-de-170-na-capital-primeira-em/420127/>. Acesso em: 15.Set.2023