“Fio do Meio/Vertigem (ato n° 2)” será apresentado na Praça Ary Coelho e no Sesc Cultura, com oficina que mobiliza corpo e voz a partir da biografia do participante
Campo Grande é a primeira cidade da Região Centro-Oeste a receber o ato de nº 2 do projeto Brasil Sem Ponto Final. Trata-se do espetáculo “Fio do Meio/Vertigem (ato n° 2)”.
Em cena está “o corpo político que dança”, com direção assinada por Paulo Emílio Azevedo, cuja proposta contempla 11 metrópoles brasileiras.
Na capital sul-mato-grossense, as apresentações serão realizadas nesta sexta-feira (Praça Ary Coelho) e neste sábado (Sesc Cultura), sempre às 17h, com entrada franca.
“Voltar a Campo Grande tem um gosto especial, pois já estive aí há cerca de 10 anos. Quando fui, estava sozinho, era meu conteúdo, agora tem uma equipe, pode ter mais trocas, e eles são muito generosos com o público. Para mim, terá continuidade da troca que tive no passado, uma ampliação dessa troca”, afirma Azevedo.
Haverá na cidade duas performances de “Fio do Meio/Vertigem (ato n° 2)” mais a realização de uma oficina criativa, o que anuncia a chegada de Brasil Sem Ponto Final em MS.
Interpretado pela Cia Gente, do Rio de Janeiro (RJ), o espetáculo é desenvolvido em dois atos, iniciando com “Fio do Meio” – vencedor do Prêmio Funarte de Circulação e Difusão da Dança – e seguido por “Vertigem”, o qual, em julho, representou o País no Festival d’Avignon, na França. Unidos, os dois formam o segundo ato do projeto Brasil Sem Ponto Final, patrocinado com recursos da Lei de Incentivo à Cultura.
O fio
Em “Fio do Meio”, o criador toma como célula o movimento do esbarrão. A partir dele, observa e provoca uma via de mão dupla: a capacidade de mover corpos e, a partir desse mover, abrir espaços de conversação.
Dando sequência à proposição de ativar a rua como um espaço criativo, sua arquitetura e seu diálogo com as pessoas, “Fio do Meio” extrapola a noção de margem e reconfigura outras relações de geocorporeidade.
Reterritorializando os usos da cidade, os “arteiros” produzem repetições oriundas de gestos do urbano para difundir catatonias e narrativas que pleiteiam a visibilidade de tantos outros corpos, tantas vezes negados, “miopizados” e varridos.
A vertigem
Já em “Vertigem”, adota-se um diálogo intenso e ininterrupto mediado pelos corpos dos intérpretes, cuja proposta expõe a borda, o ruído (e também o silêncio), a corda bamba, a respiração ofegante e a embriaguez do gesto.
Desnudado e cru, “Vertigem” persegue uma “labirintite cênica”, sendo o movimento dessa vez guiado por uma atmosfera que não almeja o controle.
Ao contrário, despreza-o e o desloca em busca do risco, daquilo que ainda não tem nome, mas que por tal recebe, gentilmente, o significado de política.
Em cena está um “corpo político que dança”, conceito criado e desenvolvido por Paulo Emílio Azevedo desde a década de 1990.
“É um espetáculo que acontece no cimento, e não em um palco de teatro. Em Campo Grande, ainda serão duas apresentações em locais diferentes, na Praça Ary Coelho e no Sesc Cultura. A praça, inclusive,
foi escolhida [justamente] por ter um coreto, então caso chova, a apresentação será lá embaixo”, antecipa Azevedo.
Seja em “Fio do Meio” ou em “Vertigem”, a proposta é executada pelos intérpretes Pedro Brum, Zulu Gregório e Salasar Junior, com assistência de Paula Lopes, direção técnica de Filipe Itagiba e produção de Flávia Menezes.
No ato n° 2, vale situar que a arte elabora distintos ecossistemas corporais, surgindo como fresta, a fim de que passem outras luzes com o intuito de se enxergar o que há do outro lado dos muros – e sobre os muros, tombá-los.
A oficina
Além das sessões do espetáculo, o projeto traz ainda uma preocupação pedagógica na troca de experiências e culturas com o público local. Por conta disso, está prevista a realização da oficina Corpo-Memória, ministrada gratuitamente pelo professor Pedro Brum, no Espaço de Dança Selma Azambuja. São 30 vagas, com inscrições pelo Instagram @cia.gente.
De curta duração, a oficina propõe, por meio das representações do gesto, da palavra e do movimento, o uso do corpo e da voz como estratégias narrativas, tendo como protagonismo as respectivas biografias dos participantes.
Para isso, utiliza-se da descrição textual, imagética, das atmosferas rítmicas, das cores, dos afetos e, sobretudo, das aberturas que podem ser suscitadas das experiências interpessoais. Experiências costuradas pela presença de um corpo político, um corpo criança, um corpo gente.
Paulo Emílio
Professor, pós-doutor em Políticas Sociais e doutor em Ciências Sociais com especialização em Antropologia do Corpo e Cartografia da Palavra, Paulo Emílio Azevedo é dramaturgo, escritor e consultor em educação e cultura.
Sua pesquisa tem por objetivo refletir sobre outras formas de comunicação aos diversos protagonismos e redes de sociabilidade na sociedade contemporânea.
O foco é voltado às ações que se desdobram no espaço urbano, na capacitação de estudantes e educadores, na formação de intérpretes/performers/atores e nos trabalhos realizados diretamente com o público juvenil.
Pedro Brum
Com origem em Duque de Caxias (RJ) e atualmente morador de Belo Horizonte (MG), Pedro Brum vem se destacando na cena do breakdance carioca e mineira. Jurado do campeonato internacional Breaking de Verão 2022, ele é campeão da Game Over 2 x 2, da Under Battle 1 x 1 e de outras batalhas.
Participou dos minidocumentários “In Braza”, da Redbull Brasil, e “Street Off”, do b-boy Lilou. Pedrin, como os amigos lhe chamam, também é intérprete-criador da Cia Gente, na qual vem desenvolvendo espetáculos com passagens pela França em 2022.
A turnê
Após o ato n°1 ter passado pela Região Sul (Curitiba/PR e Porto Alegre/RS) e o ato n° 2 ter percorrido a Região Norte (Belém/PA e Manaus/AM), o projeto agora povoa parte do Centro-Oeste, em Campo Grande.
Ainda neste mês, tomará rumo ao Nordeste, nas cidades de São Luís (MA) e João Pessoa (PB). Por fim, ocupará Brasília (DF), além de Vitória (ES), Belo Horizonte e Rio de Janeiro, quando, na ocasião, haverá a culminância do projeto na cidade-sede da companhia. Saiba mais em @cia.gente ou pelo site fundacaopaz.com.
Serviço
Cia Gente em CG
Apresentação do espetáculo “Vertigem/Fio do Meio (ato n° 2)”, integrante do projeto Brasil Sem Ponto Final. Sexta-feira (6), às 17h, na Praça Ary Coelho (com duração de 50 minutos); e sábado (7)*, às 17h, no Sesc Cultura (Av. Afonso Pena, nº 2.270, Centro).
Ainda, realização da oficina Corpo-Memória também neste sábado, das 9h às 13h, com duração de 240 minutos, no Espaço de Dança Selma Azambuja (R. Jeriba, nº 866, Chácara Cachoeira). Classificação indicativa: 18 anos. Inscrições pelo Instagram @cia.gente.
*Na apresentação de sábado, haverá duas ações além do espetáculo em si: antes da sessão, um resultado expositivo dos alunos da oficina Corpo-Memória e, após a performance, um bate-papo com o diretor e com os intérpretes sobre o processo criativo da obra e a história da companhia.
CORREIO DO ESTADO. Companhia carioca faz duas apresentações em Campo Grande. Disponível em:<https://correiodoestado.com.br/correio-b/companhia-carioca-faz-duas-apresentacoes-em-campo-grande/420927/>. Acesso em: 04.Out.2023