Mesmo após inúmeras denúncias e protestos, o forte odor da JBS persiste, sem esperanças de solução
Basta anoitecer para que o ar se torne quase irrespirável, tomado por um mau cheiro indescritível. Problema, recorrente na região do bairro Nova Campo Grande, o forte odor exalado pela fábrica da JBS já se espalha por um raio de 10 km e atinge diferentes bairros de Campo Grande, como União e Jardim Leblon.
Morador do Conjunto União há cerca de 20 anos, João* afirma que a situação nunca esteve tão insalubre. Para minimizar o impacto do odor, ele e a família precisam manter portas e janelas fechadas, o que, em meio ao calor intenso de Campo Grande, torna o ambiente ainda mais sufocante.
“O cheiro terrível chega até o bairro Leblon. Isso é ruim até para quem desembarca no Aeroporto de Campo Grande. Espero que os órgãos competentes realmente fiscalizem e tomem providências, mas parece que o cheiro vem sempre à noite para não ter fiscalização”, reclama.
Para os moradores do bairro Nova Campo Grande, onde está localizado o frigorífico, a situação é ainda pior. O mau cheiro persiste dia e noite e, mesmo após inúmeras denúncias e protestos, o problema parece longe de uma solução.
Em dezembro do ano passado, o Jornal Midiamax publicou que a Justiça de Mato Grosso do Sul segue com as ações movidas por moradores da região do Bairro Nova Campo Grande por conta do mau cheiro exalado pelo curtume da JBS.
“O Imasul deveria estar fiscalizando porque estamos denunciando há muito tempo esta podridão. Durante o dia não tem o maldito cheiro. Deveriam fiscalizar a noite. Entra anos e sai ano, a solução não chega”, disse o morador Robson Fernandes.
Nova fiscalização confirmou o mau cheiro
Em janeiro deste ano, uma nova fiscalização constatou que a unidade frigorífica continua exalando mau cheiro e determinou uma série de providências à gigante de alimentos.
Recentemente, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) recebeu novas denúncias de moradores dos arredores do frigorífico sobre ‘odor terrível’ vindo da JBS.
Diante disso, a equipe técnica do Daex (Secretaria de Desenvolvimento de Apoio às Atividades de Execução) realizou nova fiscalização no local e confeccionou, em outubro, novo laudo sobre a situação na planta da JBS.
Assim, os técnicos confirmaram os relatos dos moradores e, através de estudos e análises, concluíram que é possível haver incômodo a partir do forte odor emitido pela produção do frigorífico. “Relevante destacar que em situações de constante percepção/inalação desses odores pela comunidade adjacente ao frigorífico, o incômodo pode surgir”.
Isso ocorre devido a uma série de ‘falhas’, segundo os técnicos, ainda não sanadas. Por exemplo, a nova vistoria constatou que “foi possível confirmar a presença de aberturas capazes de permitir o escape de gases oriundos do processo produtivo”.
Além disso, detectou-se falha na cortina arbórea que deve existir no entorno do frigorífico. “Além do suprimento com vegetação nas falhas apontadas na primeira vistoria técnica (lateral leste, Av. Cinco), a equipe do DAEX recomenda a instalação de cortina arbórea na lateral oeste do terreno, junto às linhas externas de condução de efluentes do processo produtivo, por meio do plantio de mudas com porte e características adequadas”.
Pedido de providências
Os técnicos recomendaram que a JBS adote as seguintes providências para acabar com o mau cheiro que chega ao bairro:
- Realizar o total cobrimento, vedação e isolamento das unidades com maior emissão de gases com maus odores (principalmente unidades componentes do sistema de condução e tratamento de efluentes que apresentem maior turbulência no escoamento e, consequentemente, maior desprendimento dos gases);
- Realizar o planejamento, a médio prazo, visando ao deslocamento da planta produtiva para outro local mais adequado (núcleo industrial, por exemplo), de modo a não causar mais incômodos na vizinhança.
Enquanto a situação perdura, Inquérito Civil tramita no MPMS, sob o número 06.2024.00000496-4.
JBS foi alvo de protestos, audiência e ‘intervenção’
A unidade frigorífica localizada na Avenida Duque de Caxias também foi alvo de protestos de moradores, audiência pública e até uma reunião para ‘intervenção’ feita entre vereadores e representantes do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de MS), responsável pela fiscalização de questões ambientais.
Dessa forma, diversas melhorias foram exigidas pelo órgão ambiental para que houvesse a renovação da licença ambiental. No entanto, nova denúncia pode barrar essa renovação.
Ainda no bojo do Inquérito Civil, instaurado em maio de 2024, a promotora Luz Marina Borges Maciel Pinheiro solicitou parecer do Imasul sobre o PAM (Plano de Monitoramento) apresentado pela JBS. “Se já foram analisados e, em caso positivo, quais as conclusões obtidas”.
Além disso, o juiz Flávio Saad Peron, da 15ª Vara Cível de Competência Residual, propôs audiência de conciliação em mais três ações de moradores da região do bairro Nova Campo Grande contra o mau cheiro vindo da unidade da JBS.
No caso, a Justiça chegou a marcar uma audiência de conciliação para o dia 30 de janeiro de 2025 em um dos processos. Porém, a gigante frigorífica que obteve lucro de R$ 3,9 bilhões (no 3º trimestre deste ano) alegou que não tem interesse.
O número de ações pedindo indenização por prejuízos causados pelo mau cheiro pode chegar a 200. O valor pedido varia de R$ 25 mil, R$ 50 mil, R$ 75 mil ou R$ 150 mil a depender da quantidade de pessoas que entraram contra o frigorífico no mesmo processo. Além disso, também há um pedido indenização por desvalorização dos imóveis da região.