
Economista aponta que pressão competitiva deve alcançar outras proteínas
Depois do ovo, o frango. E agora, possivelmente, a carne bovina e a suína. Os efeitos da gripe aviária registrada em uma granja comercial no Rio Grande do Sul já se espalham pela cadeia de proteínas animais no Brasil. Como noticiou o jornal O Estado, a suspensão de exportações de ovos começou a reduzir preços em Mato Grosso do Sul. Agora, especialistas apontam que a sobreoferta de carne de frango no mercado interno pode provocar uma reacomodação de preços também na bovinocultura e na suinocultura.
Desde a confirmação do primeiro foco de gripe aviária de alta patogenicidade em produção comercial brasileira, o setor agropecuário nacional acompanha com atenção os desdobramentos do caso. Países como China, União Europeia, Coreia do Sul e México suspenderam temporariamente a importação de carne de frango do Brasil — e a resposta começa a ser sentida não apenas no frango, mas em toda a dinâmica entre proteínas.
Segundo dados da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), o Brasil exportou 1,73 milhão de toneladas de carne de frango entre janeiro e abril deste ano, número recorde para o período. Desse total, quase 200 mil toneladas foram compradas pela China, que anunciou um bloqueio provisório de 60 dias sobre os embarques brasileiros após a confirmação do foco no Sul do país.
“Com a interrupção nas exportações, parte significativa dessa produção passa a ser destinada ao mercado interno, o que aumenta a oferta e tende a reduzir os preços do frango no varejo”, explica Eugênio Pavão, economista ouvido pela reportagem. Ele destaca que o frango é uma proteína substituta em relação à bovina e à suína, o que pode gerar uma pressão competitiva no setor como um todo.
“O impacto dessa sobreoferta deve atingir os preços das proteínas bovina e suína, especialmente os cortes mais populares, que competem diretamente com o frango no orçamento do consumidor”, afirma. De acordo com ele, há um efeito de encadeamento: com o frango mais barato, o consumidor tende a migrar para essa proteína, forçando os preços das demais para baixo, ao menos no curto prazo.
Entretanto, o cenário futuro ainda é incerto. Caso a suspensão das exportações se prolongue, a rentabilidade do setor avícola pode ser comprometida, desestimulando a produção e levando, num segundo momento, à escassez de oferta — o que pode reverter a tendência de queda e provocar uma alta generalizada nos preços das carnes, inclusive bovina.
“Há um alívio imediato no bolso do consumidor, mas se a cadeia produtiva não tiver fôlego para suportar os prejuízos da suspensão das exportações, os preços podem voltar a subir num horizonte de médio prazo”, avalia o economista.
Importante reforçar, como já informou o MAPA (Ministério da Agricultura), que a gripe aviária não é transmitida pelo consumo de carne de frango ou ovos. O consumo continua seguro, e a população não precisa alterar seus hábitos alimentares por precaução sanitária.