Em MS, 25 mil pessoas MS vivem em áreas vulneráveis a enxurradas, alagamentos e deslizamentos

O desastre climático registrado no Paraná na última sexta-feira (8) expôs a fragilidade do país em prever fenômenos extremos de curto prazo e acendeu um alerta sobre o risco vivido por áreas vulneráveis. Em Mato Grosso do Sul, embora não haja previsão de tornados, 29 municípios possuem áreas classificadas como suscetíveis a enxurradas, inundações e deslizamentos, cenário que tem se agravado nos últimos anos devido às mudanças climáticas.

Um levantamento realizado em 2024 pelo Governo Federal aponta que 1.942 municípios brasileiros suscetíveis a desastres naturais — quase 35% do país. Diversas cidades de MS constam no mapeamento por risco geo-hidrológico, com 25.092 pessoas vivendo em áreas sujeitas a enxurradas, alagamentos e deslizamentos de encostas.

Entre os municípios com maior número de moradores em áreas de risco, se destaca Batayporã. A cidade que abriga 10.712 habitantes, tem cerca de 10 mil em regiões mapeadas como vulneráveis a enxurradas e inundações, praticamente toda a cidade.

Temporal (Pietra Dornelas, Jornal Midiamax)

Outros municípios também apresentam populações expressivas em áreas de risco: Aquidauana (2.650 pessoas), Coxim (1.740), Ponta Porã (1.710), Miranda (1.606), Corumbá (1.429) e Três Lagoas (1.478). Na capital, Campo Grande, o levantamento aponta que 1.232 moradores vivem em locais suscetíveis a deslizamentos, enxurradas e alagamentos.

‘Brasil não possui tecnologia capaz de detectar tornados’

Os dados ganham ainda mais relevância diante do recente tornado que atingiu Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, deixando seis mortos e centenas de feridos. Conforme o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), o Brasil não possui tecnologia capaz de detectar tornados com antecedência suficiente para alertar a população.

Além disso, há uma faixa do país com maior propensão à formação de tornados, que inclui o sul de Mato Grosso do Sul, parte de São Paulo, o centro-oeste do Paraná e o oeste de Santa Catarina e Rio Grande do Sul — região que ficou devastada pelas enchentes em 2024.

Consequência das mudanças climáticas

Seca no Pantanal (Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

Para o ambientalista Alcides Faria, presidente da ONG Ecoa, os efeitos das mudanças climáticas já são evidentes em Mato Grosso do Sul. Ele afirma que praticamente todo o território do Estado está vulnerável. Isso porque houve uma redução da vegetação nativa do Cerrado e do Pantanal ao longo das últimas décadas. Com isso, desastres climáticos tendem a ser cada vez comuns no Estado.

“Retirada a vegetação, as águas escoam mais rapidamente durante as chuvas, sem infiltrar no solo. Isso arrasta sedimentos e pode causar cheias repentinas. O Estado já vive eventos extremos com mais frequência, como as secas severas no Pantanal em 2020 e 2024”, destacou.

A variação climática global também altera a intensidade de fenômenos como El Niño e La Niña, tornando as chuvas mais irregulares. Conforme Alcides, pesquisas indicam que períodos de transição entre esses dois fenômenos podem reduzir drasticamente as chuvas na bacia do Rio Paraguai e afetar diretamente o Pantanal.

MS vivenciou tornado 1989

Tornado atingiu município de Ivinhema em 1989. (Reprodução, Youtube)

Em 1989, um tornado semelhante ao que atingiu o estado do Paraná, afetou a cidade de Ivinhema (MS), distante 292 km de Campo Grande. Na época, o município foi atingido por um tornado da categoria F3, com ventos de mais de 250 km/h, que destruíram casas e estabelecimentos e deixaram 17 mortos.

Cerca de 80 casas, uma escola e três fábricas sofreram danos, além de diversas árvores que foram arrancadas durante a tempestade. A principal tragédia, no entanto, ocorreu no Clube da Acri, onde iria ocorrer o Desfile da Primavera. Cerca de 450 pessoas, maioria jovem, estavam presentes.

O local ficou completamente destruído pelos ventos fortes, que derrubaram duas paredes, vigas de concreto, telhas e a cobertura, deixando 160 feridos e 17 mortos. A cidade de Ivinhema, a qual possuía pouca estrutura, conseguiu prestar socorro aos feridos devido à mobilização da população local, que, unida, conseguiu diminuir o impacto da tragédia.

Ainda temos tempo?

Para reduzir os impactos, ele defende ações estruturadas, com fortalecimento das Defesas Civis municipais e planejamento urbano adaptado.

“Eu começaria pelas cidades. Arborização, drenagem adequada, cuidado com áreas de encosta e fundos de vale. No último temporal em Campo Grande, mais de 80 árvores caíram.”

Além disso, diante desse cenário, especialistas apontam que eventos climáticos extremos tendem a se tornar mais frequentes e intensos no Estado. Por isso, Alcides reforça que o desafio para Mato Grosso do Sul é avançar na prevenção, adaptação urbana e recuperação de áreas degradadas, antes que novos desastres se repitam.

“Precisamos de planos específicos que contenha como ponto de partida a formação de um sistema de defesa civil forte. Município a município, de acordo com características particulares de cada um deles”, defende.

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