Representantes do setor de comércio e dos postos de combustível se preocupam com os impactos da possível paralisação

Lideranças nacionais dos caminhoneiros anunciam paralisação a partir desta quinta-feira (4). Representantes do comércio e do setor de combustíveis se preocupam com alta nos preços e riscos à estabilidade do país. Motoristas de Mato Grosso do Sul se dividem sobre a efetivação da greve, mas reconhecem que há uma movimentação nesse sentido.
Ao Jornal Midiamax, o presidente do Sinpetro-MS (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo e Lubrificantes de MS), Edson Lazarotto, afirma que qualquer paralisação na logística preocupa o setor. “Impacta diretamente o abastecimento dos postos. Bloqueios ou atrasos podem reduzir o volume entregue e causar oscilações de preços, dificultando ainda mais o planejamento financeiro de atacado e varejo”, explica.
Já a presidente da FCDL-MS (Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de MS), Inês Santiago, destaca que “qualquer alteração na circulação de mercadorias, sobretudo nesta reta final do ano, repercute de imediato no varejo e no atendimento ao consumidor”. Ela afirma que reconhece o direito de greve, mas pede responsabilidade com varejistas, trabalhadores e consumidores que dependem do comércio.
Caminhoneiro sul-mato-grossense ouvido pela reportagem acredita que “dessa vez, vai parar mesmo”. No entanto, ele diz que a região deve ser a última a entrar em greve, caso a mobilização se confirme. “Está muito ruim, os fretes e o tratamento com o motorista por aí, está feio”, resume as demandas. Ele calcula que o preço das entregas de minério caiu cerca de 18% desde setembro de 2025.
Risco de instabilidades
A última grande greve de caminhoneiros ocorreu em 2018, no fim do governo Michel Temer, antes da eleição de Jair Bolsonaro (PL). À época, a paralisação nacional causou alta nos preços de combustíveis, trancou rodovias e estradas, além de impactar até o movimento comercial em Mato Grosso do Sul.
Para Lazarotto, do Sinpetro, crises desse tipo aumentam o risco de especulação e de picos temporários de inflação. “Algo que o país não pode enfrentar agora”, opina o representante do comércio varejista de derivados de petróleo e lubrificantes. Por fim, ele diz que reconhece “o direito à manifestação pacífica e também o clamor da categoria, que enfrenta sérias dificuldades”.
Já Inês Santiago, da FCDL, lembra que Mato Grosso do Sul depende do transporte rodoviário. “Interrupção nas rodovias pode gerar descompasso entre oferta e demanda, atrasar pedidos e comprometer o fluxo de clientes, com efeitos que alcançam trabalhadores e empresas”. A representante dos lojistas lembra que o fim do ano é período decisivo para o comércio e diz que “o Brasil precisa de estabilidade e previsibilidade para avançar”.
Sem riscos na Ceasa
Em nota enviada à reportagem, a Ceasa-MS (Central de Abastecimento de Mato Grosso do Sul) afirma que “acompanha, com atenção, as notícias sobre a possibilidade de paralisação de caminhoneiros”.
No entanto, a Ceasa esclarece que “até o momento, não há qualquer indicação de que os profissionais responsáveis pelo abastecimento das centrais devam aderir ao movimento”. Assim, “o fornecimento de frutas, verduras e legumes segue dentro da normalidade, sem qualquer impacto previsto no fluxo de abastecimento”.
Em 2018, greve da mesma categoria causou falta de hortifrúti na Ceasa, e os preços dispararam. Só a batata teve aumento de 92%. Em um dos dias de paralisação, dos 500 caminhões previstos para chegarem ao local logo no começo da manhã, apenas dois conseguiram descarregar.
Reflexos em 2018
A greve dos caminhoneiros de 2018 provocou graves reflexos no Estado. Além do risco de desabastecimento nos mercados e da falta de produtos na Ceasa, faltou combustível em várias cidades do interior de Mato Grosso do Sul.
As menores cidades, por estarem mais distantes das distribuidoras, são as que mais sofreram. Naquele ano, o Jornal Midiamax registrou falta combustível em Corumbá, Coxim, Dourados, Naviraí, Ivinhema, Paranaíba, Ribas do Rio Pardo, São Gabriel do Oeste, Rio Brilhante, Bonito e Costa Rica.
Nos aeroportos, a situação também foi difícil. O estoque de combustível era limitado, e a recomendação da Infraero foi de que o cliente confirme o voo com a companhia aérea antes de ir para o terminal, por conta de riscos de cancelamento por desabastecimento.
Além disso, segundo a Fiems, 80% das indústrias sul-mato-grossenses paralisaram com a greve dos motoristas de caminhão.
Possível greve em 2025
O caminhoneiro autônomo ouvido pelo Jornal Midiamax relata que os fretes desvalorizaram significativamente nos últimos meses. “Frete do minério era R$ 385, chegou até R$ 415 para ir para Minas Gerais. Hoje está em R$ 340 a tonelada”, explica o motorista de caminhão. Assim, ele aposta que haverá paralisação.
Ao Jornal Midiamax, Osny Belinati, presidente do Sindicam-MS (Sindicato dos Caminhoneiros de Mato Grosso do Sul), afirma que a entidade está atenta à possível greve, mas descarta uma real paralisação. “Estamos de olho, mas não existe nenhuma movimentação. Em MS, não acredito em paralisação. Estamos de olho”, diz o sindicalista sul-mato-grossense.
Já Giovani Dias da Silva, vice-presidente do Sindicargas-MS (Sindicato dos Trabalhadores em Transportes de Cargas de Mato Grosso do Sul), afirma que — se houver paralisação — a greve deve ser restrita aos autônomos. O Sindicargas representa apenas os caminhoneiros com registro profissional em empresas. “Não foi feito nenhum comunicado ao nosso sindicato. Se tiver alguma movimentação, é por parte dos autônomos”.
Em maio de 2018, caminhoneiros autônomos se negaram a deixar o protesto, mesmo após o Sindicam-MS determinar o fim da greve, em 30 de maio de 2018. Muitos caminhoneiros autônomos não reconhecem as lideranças sindicais. Sem uma liderança definida, eles se organizam em grupos de WhatsApp. O mesmo acontece em 2025.
Entidade nacional nega paralisação
A CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística) divulgou nota afirmando que “não apoia nenhuma suposta paralisação de caminhoneiros anunciada para o dia 4 de dezembro, que tem circulado em grupos de WhatsApp e nas redes sociais”.
A entidade reforça “que nenhuma de suas filiadas participou de qualquer reunião com o objetivo de organizar movimento paredista por parte dos transportadores autônomos em favor de anistia a golpistas e ao ex-presidente da República Jair Bolsonaro, condenado à prisão por golpe de Estado”.
Circulam informações preliminares de que a possível greve seria em retaliação à prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). No entanto, o caminhoneiro de MS esclarece que a paralisação não teria relação com questões político-partidárias. “Alguns vão querer levantar essa bandeira, mas não tem nada a ver”, diz ele.
A nota, da CNTTL reafirma que “não compactua com movimentos de manipulação política que utilizam uma das categorias de transporte mais importantes do país para tal finalidade”. Mesmo assim, o setor lista demandas, que diz ter apresentado ao Governo Federal: “aposentadoria especial aos 25 anos de contribuição, alteração da jornada de trabalho para o caminhoneiro autônomo e cumprimento da lei do Piso Mínimo de Frete”.
