Essa forma de pagamento surge como alternativa para quem não tem cartão de crédito ou quem tem e está com o limite estourado.
Conforme dados da Fecomércio, os carnês são o segundo principal motivo do endividamento dos consumidores da Capital, respondendo por 18,6% das dívidas. Em primeiro lugar está o cartão de crédito, que atinge 68,7% das pessoas.
Com a taxa básica de juros em 15% ao ano, a perspectiva de consumo recua e, por outro lado, limita as vendas no comércio. Diante desse cenário, muitas empresas passaram a apostar novamente no carnê como forma de dar oportunidade ao consumidor de comprar mais e, consequentemente, aumentar o faturamento.
Segundo a Serasa Experian, 1,2 milhão de sul-mato-grossenses estão inadimplentes, o que representa quase metade da população, que é estimada em 2,9 milhões de pessoas. Ao todo, são 5.514.201 dívidas acumuladas, que somam R$ 9.499.159.995. O ticket médio das dívidas é de R$ 1.722,67, e cada inadimplente acumula, em média, R$ 7.629,20.
Rotina – No dia a dia do comércio, o carnê tem mostrado força. A gerente de uma ótica localizada na Rua 14 de Julho, Marcela da Silva, conta que a loja existe há um ano e seis meses e sempre trabalhou com carnê. “De 10 clientes que entram na loja, 6 optam pelo carnê todos os dias”, afirmou.
Ela explica que a facilidade de pagamento faz toda a diferença. “Quando não tem cartão de crédito ou não tem o dinheiro, o cliente tem a facilidade com o carnê em pagar até 60 dias depois. Para aprovar tem que ter o nome limpo, mas, às vezes até com o nome sujo passa”.
Marcela trabalhando em frente ao computador (Foto: Marcos Maluf)
Sobre os juros, Marcela ressalta que tudo depende da forma de parcelamento. “Já teve casos de 250 reais em duas vezes e aumentou 14 reais cada fatura”, explicou.
Nas grandes redes, o carnê também segue como um dos principais motores de vendas. Gerente da Magazine Luiza, Márcio Rodrigo, destaca que o crediário sempre foi forte na empresa, mas teve recuo em outros anos devido ao cartão de crédito.
“Carnê sempre foi nosso forte. A nossa loja participa de 20% a 25% das vendas no carnê. Teve uma pequena diferença de anos anteriores, quando o cartão estava muito forte e tinha possibilidade de aumentar o limite. Depois começamos a estudar formas de ser atrativo, de uma forma mais consciente. Esse é um crédito quando os consumidores estão com o cartão cheio ou querem pagar a longo prazo”, disse.
Márcio dando entrevista sobre a adesão aos carnês (Foto: Marcos Maluf)
A loja onde ele trabalha oferece dois planos: parcelamento em 15 ou até 20 vezes. Apesar de o carnê impulsionar as vendas, ele também traz riscos para o lojista. “Quando se vende no carnê, há alto risco de perder aquilo que foi dado. A empresa acaba assumindo o risco se o cliente deixar de pagar”, explicou.
Lojas que ainda não trabalhavam com carnê também estão aderindo à modalidade. Vendedora de uma loja de celulares, Beatriz Gonçalves, conta que a empresa vai iniciar as vendas no carnê a partir de janeiro, com parcelamento em até 18 vezes.
“Vai ser benéfico para o comércio, porque nem todo mundo tem cartão de crédito. Tem dias que 3 ou 4 pessoas perguntam sobre carnês”, relatou.
Ainda de acordo com a funcionária, caso o cliente deixar de pagar, a loja contará com um sistema que bloqueia o aparelho, impedindo o uso.
Márcio segurando carnê de pegamento da loja onde trabalha (Foto: Marcos Maluf)
Para o presidente da CDL-CG (Câmara dos Dirigentes Lojistas de Campo Grande), Adelaido Vila, a retomada do carnê é um movimento claro no comércio local e dá a possibilidade do consumidor ter mais crédito de uma forma diferente, além de conseguir fidelizá-lo.
“A volta do carnê hoje, a volta do crediário próprio de loja tem crescido de forma gigante. Uma média de 10, 15% ao ano”, destacou.
Segundo ele, apesar das opções como Pix e cartão de crédito, muitas lojas têm investido nessa alternativa como estratégia de fidelização. “Existem muitas pessoas ainda que têm um relacionamento não bancarizado, que não têm um relacionamento com os bancos, e o crédito delas, quanto cartão de crédito, muitas vezes é muito pequeno. E aí as lojas acabam complementando, dando crédito para essas pessoas.”
Adelaido também destaca o papel do SPC Brasil na análise de crédito. “O SPC Brasil tem ajudado muitas empresas a fazer uma análise desse cliente para ver se ele tem condição ou não de receber crédito. E isso tem ajudado muitas pessoas que não podiam consumir porque tem um limite muito pequeno no cartão de crédito, que tenham uma possibilidade de voltar a consumir de novo”, pontuou.
