Mesmo em meio ao sentimento desanimador, é possível focar para conseguir entrar no curso almejado
Dedicar-se o ano inteiro aos estudos e no fim não conseguir a vaga que tanto almejava. Lidar com essa frustração invariavelmente faz parte da vida de muitos estudantes – considerando, principalmente, que as almejadas universidades públicas não têm vagas para todos.
A frustração não é por menos. Mesmo com foco nos estudos, cursos muito procurados, como medicina e direito, requerem notas muito altas. Uma questão errada, portanto, pode decidir quem entra ou não na graduação. Além disso, lidar com a realidade de colegas ingressando na vida universitária também expõe candidatos à sensação de fracasso.
Contudo, já que a não aprovação é uma constante na vida de muitos, há caminhos para tornar a jornada estudantil de vestibulando menos pesada. É mais do que concentração ou foco: é importante ter estratégias.
Foi o caso da estudante de medicina na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) Andressa Duranes, cuja preparação até chegar à universidade durou três anos a contar do pré-vestibular. Em sua trajetória, portanto, Andressa contou com ajuda: um de seus professores, vendo a dedicação que ela tinha, sugeriu que ela fizesse a prova de um cursinho particular para conseguir o custeio da formação. O resultado foi uma bolsa de 80% de desconto na mensalidade escolar.
Tentativas
Com a bolsa, Andressa aponta que não tinha uma base das matérias e precisou construir isso no cursinho. No ano seguinte, ela teve novamente ajuda de alguns professores para entrar em outro curso preparatório. “Mas eu achava desgastante e cansativo estudar toda a matéria novamente”, diz.
Assim como Andressa, a estudante de odontologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Beatriz Teixeira tentou entrar no curso duas vezes. Ela também achou desgastante ter que estudar tudo de novo.
“Foi cansativo. Principalmente, porque você não pode ver apenas o que gosta, tem que estudar o que mais odeia, o que você tem dificuldade, já que é isso que vai fazer diferença na hora da prova”, conta Beatriz.
Nova estratégia
Tanto Beatriz quanto Andressa precisaram refletir sobre os erros que estavam cometendo. Beatriz explica que pegou as provas e a redação e avaliou seus erros, para assim focar nas áreas de mais dificuldade. Já Andressa decidiu fazer mais exercícios.
“No terceiro ano, eu falei: eu vou só fazer exercício, porque na prova eu vou fazer exercício. Eu não vou ver aula. Então, vou fazer exercício e tentar ver a forma que eles cobram. E, aí, ignorei aquilo que eu sabia mais, que é biologia, história, geografia. Toda a parte que eu tinha mais conhecimento eu passei a ignorar”, explica Andressa.
O processo de reflexão é importante em momentos como esse. Afinal, sentimentos de fracasso tendem a tomar conta com a negativa recebida, que muitas vezes funciona com o agravante da ansiedade.
“Era frustrante. Saber que o esforço de um ano inteiro não foi suficiente, é difícil de aceitar. No meu caso, ainda tinha o fator da ansiedade na hora da prova, que me prejudicava bastante, pois eu não consegui controlar”, lamenta Beatriz.
Trabalhe a mente
Para auxiliar no processo de insatisfação consigo mesmo, a terapia surge como um grande auxílio, mesmo sendo um privilégio de poucos, ainda.
Em seu último ano de tentativa, Andressa conseguiu um emprego em um call center. Lá, ela passava a tarde atendendo reclamações, o que também impactou seu psicológico, e foi nesse turbilhão de emoções que ela iniciou a uma terapia oferecida gratuitamente.“Eu sentia muita frustração, decepção. No começo, me sentia incompetente, mas não é porque eu não tinha estudado o suficiente. Eu fiz o que pude. E aí, a partir daquele ano que comecei a terapia, eu comecei a ver isso. Sempre quando eu via que eu estava muito cansada, que eu não conseguia mais fazer, eu falava: tá bom, isso aqui é o meu limite”.
As pausas, portanto, foram uma das estratégias que auxiliaram a estudante a se respeitar na jornada de estudos. “Eu respeitava o meu limite, parava, ia tomar um sorvete… Aí a cabeça melhorava. Tomava uma água, tomava um banho, brincava com o cachorro, aí eu via que melhorou. Clareava um pouco as ideias e aí eu voltava a estudar”, explica Andressa.
A estudante de medicina aproveitava o tempo que tinha livre para estudar, mas sempre deixando os domingos apenas para descansar. Andressa afirma que a terapia, entender seus limites, refletir sobre seus erros e ter um dia de descanso na semana foram cruciais para que ela conseguisse a tão sonhada vaga em medicina.
Terapia
A terapia também tem sido importante para Diullyano Abreu. O assistente de operação está na lista de espera para jornalismo na UFMS e a questão psicológica o afetava ao ponto de deixar a vontade de fazer o curso de lado.
“Jornalismo já é um curso que pensava em arriscar, só que, ao mesmo tempo que me imaginava na profissão, e eu me sabotava, dizia que não era para mim e que não conseguiria. Por isso, fui deixando essa vontade guardada”.
Depois de iniciar a terapia e de ver as conquistas de um amigo que se formou no mesmo curso, Diullyano decidiu que é isso que quer para a sua carreira profissional. E mantém a tranquilidade para caso não consiga entrar esse ano. “Caso não consiga ingressar neste ano, pretendo fazer o Enem de novo e me dedicar mais em fazer o exame estudado”.
Conquistas e celebrações
E mesmo após anos de estudo e tentativas, ler o nome na lista de seleção para o curso escolhido é algo que mexe com quem tanto sonhava com isso. Beatriz até achou que fosse uma pegadinha.
“Primeiro eu não acreditei, fiquei procurando letras pequenas falando que era uma pegadinha. Aí quando a minha madrasta pegou o celular da minha mão, leu e começou a gritar ‘parabéns’ e a me abraçar. Foi caindo a ficha. Abracei ela de volta e comecei a gritar e a chorar. É uma lembrança muito boa”, relembra a estudante de odontologia.
Já Andressa até hoje tem dificuldade de acreditar que passou, mas diz ter orgulho de toda sua trajetória e deixa um recado para quem ainda segue em busca do sonho.
“O que eu quero dizer é: primeiro, meus sentimentos, porque eu sei que é uma dor que é terrível. A gente se sente péssima, mas dá para insistir, dá para tentar de novo, dá para sonhar mais um pouco. Tudo tem o seu momento e quando chegar lá na frente, quando você ver o seu nome na lista de aprovados, você vai esquecer tudo isso que passou agora. Você não vai lembrar de nada, não vai lembrar de quantas lágrimas você derramou, você não vai lembrar do dia que você chorou estudando logaritmo, você não vai lembrar de nada disso”, conclui.