A Espanha vai criar um fundo, a ser financiado em grande parte pela Igreja Católica, para compensar estimadas 440 mil vítimas de décadas de abuso sexual cometido por clérigos, funcionários ou professores católicos, anunciou o ministro da Justiça espanhol, nesta terça-feira (23).
Um relatório publicado em outubro pelo Provedor de Direitos Humanos de Espanha produziu a estimativa de vítimas a partir de uma pesquisa com 8 mil pessoas.
O documento também recomendou a criação de um fundo estatal, acusando a Igreja de falta de cooperação e procurando “minimizar o fenômeno”.
O ministro da Justiça, Félix Bolaños, disse aos repórteres que a Igreja falhou durante décadas em atender aos pedidos de reparações, e que as suas respostas ao relatório tinham variado por diocese.
“Queremos responder para prevenir, reparar e tentar saldar a dívida que a nossa sociedade tem para com as vítimas”, disse Bolaños.
O esquema governamental, previsto para vigorar até 2027, prevê uma fórmula ainda indefinida que exigiria que a Igreja “pagasse a totalidade ou uma parte substancial da compensação e fornecesse outros elementos de reparação simbólica”.
Bolaños disse que o seu Ministério negociaria com os bispos a contribuição da Igreja para o fundo e que tinha a impressão de que estava disposto a cooperar.
No entanto, a Conferência Episcopal Espanhola disse que não poderia aceitar um plano que excluísse vítimas de abuso sexual em outras organizações, pois representava um “julgamento condenatório de toda a Igreja que aborda apenas parte do problema”.
Em novembro, a Igreja disse pela primeira vez que iria compensar as vítimas, mesmo em casos deixados em aberto devido à morte do padre infrator.
Bolaños disse que um órgão especializado independente estudaria os casos em que o agressor morreu ou o prazo de prescrição foi aprovado, ou que nunca chegou a tribunal.
O governo também planeja organizar um evento público com as vítimas e seus familiares para oferecer “reparação simbólica” em nome do Estado.
No vizinho, Portugal, a Igreja anunciou este mês que iria compensar as vítimas caso a caso, uma abordagem criticada por grupos de sobreviventes.
Fonte: CNN Brasil