No Dia Nacional do Artesão, comemorado nesta quarta (19), vamos discutir a realidade da categoria, mostrando o quanto estes profissionais se organizaram e como estão as políticas públicas de incentivo no Estado

(Komiyama Produções/Arquivo Pessoal)
Campo Grande, por anos consecutivos, é reconhecida como uma das cidades mais arborizadas do mundo. Só que há algum tempo – graças à união de artesãos – também pode-se dizer que é a cidade das feiras. Toda semana e, se bobear, todos os dias são preenchidos com uma ocorrendo em bairros ou no Centro, se tornando locais em que o trabalho manual é exposto e garante o sustento da categoria.
Mas nem sempre foi assim. Artesãos, por muito tempo, apenas sobreviveram, abandonaram sua arte. Sem recurso, sem ajuda, viram espaços sucumbirem e, aliás, continuam aguardando por melhorias.
No Dia Nacional do Artesão, comemorado nesta quarta-feira (19), vamos discutir a realidade da categoria, mostrando o quanto estes profissionais se organizaram – por meio de associações e coletivos -, e como estão as políticas públicas de incentivo no Estado.
Feiras, políticas públicas e incentivo para o setor

Existem políticas públicas para a categoria? Editais e incentivos estaduais e municipais estão em andamento? São medidas suficientes? As feiras espalhadas pela cidade são suficientes para atender a demanda? Como impactam o setor?
Questionada sobre o assunto, a diretora de artesanato, moda e design, da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), Katienka Dias Klain, ressaltou alguns trabalhos com a categoria, os quais, segundo ela, receberam investimentos de R$ 2 milhões no Estado, no ano de 2024.
“Neste dia 19 de março comemoramos o dia do artesão, uma profissão tão antiga quanto a existência da humanidade. Em Mato Grosso do Sul, temos cadastrados, aproximadamente, 9 mil artesãos no SICAB [Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro], legalizados e regulamentados com a Carteira Nacional do Artesão, profissão reconhecida, com muita luta, no ano de 2015”, argumentou a diretora.
Conforme Katienka, em Mato Grosso do Sul existem diversas políticas públicas, entre elas, o projeto Artesania/MS, com capacitações e participação de artesãos em feiras regionais e nacionais.
“Ainda temos muito a evoluir, com o fortalecimento das associações de artesanato que temos em MS, a criação de Casas do Artesão no interior, entre outros projetos. Neste caso do Artesania/MS, por exemplo, estamos buscando criar núcleos produtivos de artesãos, com capacitações através de oficinas técnicas, gestão e design”, argumentou.
O impasse da Praça dos Imigrantes

Outro ponto a ser questionado pela equipe do Jornal Midiamax foi a Praça de Imigrantes, antigo ponto importante de comercialização de artesanato na capital sul-mato-grossense, com 30 lojinhas e produtos tais tais como: cerâmica, couro, arte indígena, arte em mosaico, trabalhos em biscuit, madeira, tecelagem, bordados e pinturas diversas, bijuterias, licor de pequi entre outros. Hoje, tudo fechado e abandonado.
Em nota, a prefeitura municipal de Campo Grande disse: “A Secretaria Municipal de Obras informa que, no ano passado, a empresa que executava a obra pediu a rescisão do contrato e, agora, a Sisep está preparando nova licitação, já havendo, inclusive, encaminhado a atualização do orçamento para aprovação da Caixa Econômica Federal (CEF), uma das etapas para iniciar nova licitação”, argumentou.
Sendo assim, onde estes profissionais foram absorvidos? Estão conseguindo viver da própria arte? Ouvindo artesãos, o que se entende é que buscaram alternativas e sim, estão preocupados com o futuro do setor. Enquanto isso, usam o e-commerce e as redes sociais como aliados.
Feiras culturais: ‘vitrine a céu aberto para a valorização dos artesãos’

A produtora cultural Jenny Benitez, de 34 anos, está envolvida em promover feiras, ao lado do marido, há 3 anos. Neste período, tem contato diários com estes trabalhadores e ressalta que as feiras culturais surgiram com o intuito de, justamente, levar arte, cultura e economia criativa de forma democrática para a população, valorizando também os artesãos.
“Estas feiras culturais se tornaram uma vitrine ao céu aberto para a valorização dos artesãos, e para que eles tenham esses espaços, para mostrar o seu trabalho – que trazem muita criatividade, regionalidades, questões sociais e de ancestralidade, combinação entre a tradição e o contemporâneo – que é muito importante para a consolidação de uma identidade cultural, e as feiras fazem esse papel, trazendo impacto cultural e econômico, tanto para a população como para os artesãos”, ressaltou Benitez ao Jornal Midiamax.
No entanto, a produtora argumenta que a manutenção deste tipo de evento está sendo um desafio. “A Feira Borogodó, que é uma feira independente, sem o apoio de estruturas pelo poder público, muitas vezes tiramos do próprio bolso, como é o caso das quatro últimas edições, em que as taxas dos expositores não supriram os custos do evento”, explicou.
A costureira Maria Aparecida Rodrigues Ferreira, de 50 anos, mais conhecida como Cidinha, é uma das beneficiadas por feiras. Das roupas, ela pulou para o biscuit e a capivara Filó se tornou a sua inspiração. Sabendo a paixão dos campo-grandenses pelo animal, inventou “versões capivarescas” e logo fez sucesso.
Assim, de um espaço físico, passou a levar suas capivarinhas para diversas feiras. Atualmente, para dar conta da demanda, permanece fixa em somente três delas. “Graças a Deus eu tenho feito vários modelos, cada vez mais. Agora estou fazendo capivarinhas de profissões e tem sido ótimo o resultado. Não tive nem tempo para costura mais, está indo bem, graças a Deus”, argumentou.
Já a artesão Lú Lopes, que trabalha com couro ecológico e participa de diversas feiras, acredita que os valores cobrados dos feirantes está excessivo. “Tenho a sensação que os organizadores de feiras se uniram e aumentaram os valores de taxas, como se ganhássemos rios de dinheiro. E isso não é verdade. Tem feiras que consigo vender duas peças e tem feira que não vende nem para tirar as despesas. É algo frustrante para gente, tem hora que desanima, que dá vontade de parar, só que as contas fixas não esperam. E aí ou você paga ou seu nome vai para o Serasa e acaba que a gente continua insistindo”, lamentou.
A artesã comenta ainda que a categoria, constantemente, é esquecida pelos governantes, os quais só passeiam nas feiras em época de eleições. Lú diz ainda que a extinção da Sectur prejudicou muitos artesãos e que o fluxo de pessoas que frequentam as feiras caiu muito, refletindo nas vendas.
“Quando chega as eleições os candidatos ficam doidos por voto, visitando as feiras, prometendo o mundo. E depois quando ganham, somem. Não nos recebem para uma conversa, então, sinceramente, vai ficando cada vez mais difícil de trabalhar”, disse a artesã.
Qual a programação na Semana do Artesão?

A FCMS, Sebrae e parceiros realizam, de 19 a 25 de março, a 17ª Semana do Artesão, em vários locais da cidade. A programação completa você pode conferir no http://mscultural.ms.gov.br .
Eventos ocorrerão no Bioparque Pantanal, no Armazém Cultural, Escolas Públicas de Campo Grande, Morada dos Baís e Assembleia Legislativa.
Serão realizadas Feira de Artesanato “Mãos que Criam”, Noite Cultural e Homenagens, Rodada de Negócios, Exposições de Artesanato, Atrações Culturais, Oficinas de Artesanato para crianças e adultos e palestras.
A programação extensa inicia às 10 horas, nesta quarta (19), com a abertura oficial da primeira filial da Casa do Artesão de MS, no Bioparque Pantanal. A ação faz parte do projeto de expansão da Casa do Artesão de MS. Haverá uma apresentação cultural com Fábrica do Som, às 10h, e com Evelyn Lechuga, às 11h, aberta ao público.
No Armazém Cultural/Feira Central acontece a Feira de Artesanato Mãos que Criam, de 19 a 23 de março de 2025, das 14h às 22h. A abertura oficial da Feira acontece às 18h, com homenagens aos artesãos homenageados da semana, Josefa Mazarão, Rosenir Batista e Jane Clara Arguello.
Às 19 horas, haverá a execução do Hino de Mato Grosso do Sul, executado pelo Mestre Cururueiro Sebastião Souza Brandão e seu neto Bruno Santos. Às 19h30 se apresenta o grupo Ipê de Serra.
Feira Mãos que Criam, com a participação de 8 etnias indígenas de MS
O objetivo da Feira Mãos que Criam é a divulgação e comercialização de artesanato de referência cultural do MS; comercialização de produtos da gastronomia regional. Em 2025, além da participação de 8 etnias indígenas do MS, haverá exposição de artesanato de 16 municípios do interior.
As oficinas de artesanato, para crianças e adultos, acontecem também no Armazém Cultural/Feira Central, gratuitas e abertas ao público, com os mais variados temas como modelagem de biscuit, técnica milenar da tecelagem, cerâmica utilitária, oficina lúdica de papel machê para o público infantil, modelagem de bonecas em cerâmica, criação de modelagem de biojóias de cerâmica. As inscrições podem ser feitas na hora e a programação dessas oficinas pode ser conferida nas redes sociais da FCMS.
As oficinas de artesanato indígena terena e viola de cocho acontecem também nas escolas públicas da capital, para os alunos. A Gerência de Desenvolvimento de Atividades Artesanais da FCMS pretende oferecer aos alunos de escolas públicas da capital uma oportunidade de aprofundar seus conhecimentos sobre o artesanato de referência cultural produzido por mestres artesãos, Rosenir Batista e Sebastião Brandão, reconhecidos no Mato Grosso do Sul por fomentar a cultura regional e inspirar novos artesãos.
As oficinas nas escolas acontecerão de 19 a 21 de março, destinadas somente ao público escolar.
No dia 20 acontece a Rodada de Negócios no Sebrae, das 8 horas às 12h30. O objetivo é realizar, em parceria com o Sebrae/MS, uma rodada de negócios entre 10 lojistas de artesanato do Brasil com artesãos de MS. Após o evento, está programada a visita dos empresários à Feira Mãos que Criam.
Na Assembleia Legislativa de MS, em 20 de março de 2025, a partir das 19 horas, acontece a Sessão Solene Conceição dos Bugres, homenagem anual dos deputados aos artesãos de Mato Grosso do Sul.
Políticas Públicas para os Artesãos nas esferas estaduais e nacionais
No dia 21 de março acontece a palestra “Políticas Públicas para o Artesanato” com um palestrante do Programa do Artesanato Brasileiro nacional, estadual e um representante do Sebrae, na Feira Mãos que Criam, a partir das 16h30. O objetivo é discutir a apresentar as Políticas Públicas para os Artesãos nas esferas estaduais e nacionais.
Na Morada dos Baís, no 22 de março de 2025 acontece o Café na Praça, aberto ao público em geral, a partir das 8 horas. Anualmente a Associação da Praça dos Imigrantes realiza o café da manhã na Praça do Imigrantes fazendo uma grande comemoração para os artesãos e público em geral esse ano como a Praça dos Imigrantes está reforma o evento será realizado na Morada dos Baís, onde atualmente encontra-se a API (Associação da Praça dos Imigrantes). Todos os eventos da Semana do Artesão são gratuitos e abertos ao público.