Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas aponta que temperatura pode aumentar até 6° em 80 anos em MS

Estudos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) apontam os impactos que as mudanças climáticas podem gerar no clima de Mato Grosso do Sul. As publicações do IPCC revelam que, se não houver a redução da emissão de gases que causam o efeito estufa, a temperatura média do Estado pode aumentar de 5°C a 6°C em 80 anos. 

O sexto relatório do IPCC, “The Physical Science Basis”, publicado em agosto de 2021, revela que Mato Grosso do Sul está entre duas sub-regiões, a Sudeste da América do Sul (NES) e a América do Sul Monções (SAM), que estão dentro do cenário de aumento da temperatura média e de aumentos na ocorrência de dias e noites quentes em vários cenários climáticos futuros. 

Nesse cenário pessimista, os estudiosos alertam que, além do aumento da temperatura, o que já está acontecendo a nível mundial, Mato Grosso do Sul também registraria redução de chuva acumulada anual, de aproximadamente 15% no norte do Estado, aumento de eventos de chuvas extremas em 20% e aumento de dias secos no ano, fazendo com que a estação seca tenha um mês a mais. 

O professor doutor em física Vinicius Buscioli Capistrano, do Laboratório de Ciências Atmosféricas (LCA) do Instituto de Física da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), explica que a redução da precipitação, o aumento das chuvas extremas e o crescimento do período seco são extremamente prejudiciais para a agropecuária. 

“Além disso, estima-se que, dada a condição de uma estação seca mais extensa, tenhamos um maior potencial de risco de queimadas em Mato Grosso do Sul no fim deste século”, alerta o professor. 
O IPCC é o órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) que avalia as mudanças climáticas, sendo pioneiro na publicação de estudos que alertam sobre o aquecimento global. 

Em 2007, o painel, que conta com cientistas de diversos países, incluindo o Brasil, ganhou o Prêmio Nobel da Paz, juntamente com o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore. 

IPCC afirma que essa situação já é uma realidade e foi causada por conta das ações humanas. Entre os impactos no clima mundial estão as maiores ocorrências de chuvas fortes, secas mais frequentes e severas, degelo recorde do Ártico, aumento do nível médio do mar, entre outras situações. 

Vinicius Capistrano comenta que algumas dessas mudanças climáticas já são irreversíveis, mas outras podem ser retardadas e até interrompidas caso haja uma mudança da ação humana. 

O professor relata que uma das medidas para minimizar os impactos das mudanças climáticas é o processo de descarbonização. “Se zerarmos a emissão de gases do efeito estufa hoje, conseguiríamos manter o aquecimento do globo abaixo de 1,5°C no fim desse século, em conformidade com o Acordo de Paris”, detalha. 

“Note que, mesmo tomando o caminho de decisões mais drásticas, se zerarmos a emissão de carbono hoje, o planeta vai aquecer 0,5°C, saindo dos atuais 1,0°C de aquecimento e chegando a 1,5°C”, complementa Capistrano. 

ALERTA ONU 

Na semana passada, a Organização Meteorológica Mundial (OMM), entidade especializada da ONU, emitiu um novo alerta a respeito do aumento da temperatura na Terra. Segundo o órgão, as chances de ultrapassar o limite de aquecimento de 1,5° C nos próximos cinco anos é de 66%. 

Apesar de a OMM relatar que isso não significa um aumento permanente de mais de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, estabelecidos no Acordo de Paris, de 2015, essa é a primeira vez na história que há grandes chances de ultrapassar o teto de aumento da temperatura. 

Uma das justificativas para essa previsão alarmante é a chegada do fenômeno El Niño, que geralmente eleva as temperaturas globais. No início do mês, a OMM publicou um novo estudo que afirma que as chances de o El Niño acontecer até setembro deste ano são de 80%. 

Segundo a Organização Meteorológica Mundial, o La Niña, que estava em atuação nos últimos anos, ajudou a frear temporariamente a elevação da temperatura no mundo todo. 

Agora, com a chegada do El Niño, o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, comenta que o fenômeno climático provavelmente levará a um novo pico no aquecimento global e aumentará a chance de quebrar recordes de temperatura. 

“O fenômeno está normalmente associado ao aumento das chuvas em partes do sul da América do Sul, sul dos Estados Unidos, Chifre da África e Ásia Central. Por outro lado, o El Niño também pode causar secas severas na Austrália, na Indonésia e em partes do sul da Ásia”, diz a ONU. 

O evento climático ocorre, em média, a cada dois a sete anos, e os episódios geralmente duram de nove a 12 meses. Por conta desse fator, os cientistas também comentam que até 2027 deve ocorrer um aumento de temperatura maior que o já registrado, que foi em 2016. 

ESTUDO NA CAPITAL 

O professor Capistrano coordena uma pesquisa sobre os impactos da poluição atmosférica e dos gases de efeito estufa em Campo Grande, financiada pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de MS (Fundect), que consiste na produção de um inventário de emissões veiculares e de termoelétricas, incluindo diversos compostos químicos. 

Segundo o pesquisador, os dados são inseridos em um modelo numérico de previsão de tempo químico, “com propósito de ver a dispersão e as reações químicas decorrentes dessas emissões”.

Essa ferramenta pode, inclusive, ver os efeitos individuais de cada emissor, como por exemplo os carros, na poluição e no aumento de gases do efeito estufa. Para Vinicius, estudar os impactos dos setores energético e de transporte em Campo Grande é importante em razão do aumento do número de veículos e também do uso de termoelétricas, por conta da recorrência de anos secos na última década, o que contribui para a redução da capacidade de geração das hidrelétricas. 

CORREIO DO ESTADO. Grupo que ganhou Nobel da Paz alerta para cenário catastrófico no Estado. Disponível em:<https://correiodoestado.com.br/cidades/grupo-que-ganhou-nobel-da-paz-alerta-para-cenario-catastrofico-no/415256/>. Acesso em: 22.Mai.2023.

administrator

Related Articles

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *