Veículos, fios de cobre e até cotonetes viram alvo de furtos em Campo Grande

Do amanhecer ao cair da noite, a insegurança é presença constante nos bairros mais perigosos de Campo Grande. É ali, entre vielas estreitas e postes apagados, que os furtos e roubos se tornaram rotina. De janeiro de 2024 a março de 2025, foram registrados 16.608 ocorrências de furtos. Com uma média 36 furtos por dia, os dados revelam o cenário alarmante do cotidiano urbano da Capital.
Como de praxe, o Centro de Campo Grande concentra a maior incidência de crimes no período analisado, com 2.020 ocorrências de furto. A situação resulta de uma combinação de fatores, como a alta concentração de comércios, onde há maior circulação de dinheiro; a presença de imóveis antigos, com estruturas de segurança mais frágeis; e, sobretudo, o intenso fluxo de pessoas, sobretudo em horário comercial, que facilita a ação de criminosos em meio ao vai-e-vem cotidiano.
Os 79 bairros de Campo Grande estão divididos em sete regiões, são elas: Centro; Segredo (ao norte do Centro); Prosa (nordeste e leste); Bandeira (sul e sudeste); Lagoa (a sudoeste) e Imbirussu, na região Oeste da cidade.
Aero Rancho lidera ocorrências de furtos

Ao observar os dados por bairros, é possível traçar um panorama mais detalhado dos pontos vulneráveis da cidade. Terceiro bairro mais populoso da Capital, o Aero Rancho abriga cerca de 36.374 pessoas e registrou 547 ocorrências de furto no período. Logo em seguida aparece o Universitário, com 506 registros.
Ainda na região central, o bairro Amambaí também se destaca negativamente, com 451 furtos registrados. A região é alvo frequente de reclamações da população, principalmente após o fechamento da Antiga Rodoviária, que contribuiu para o aumento do número de pessoas em situação de rua, agravando a sensação de insegurança.
Outros bairros que figuram na lista incluem Guanandi I e II (335), Monte Castelo (322 furtos), Jardim Noroeste (313), Tiradentes (286), Jardim Tijuca (283) e Nova Lima (252).
Em contraponto, bairros já conhecidos pela sensação de insegurança aparecem em posições abaixo dos citados. O Jardim Nhanhá, por exemplo, que há anos carrega a fama de ser uma das regiões mais perigosas de Campo Grande, registrou 173 furtos do ano passado até março deste ano. O mesmo ocorre no Jardim Los Angeles, outro bairro com histórico de criminalidade, onde foram contabilizadas 168 ocorrências de furtos. Embora os números absolutos sejam menores que em outras áreas, o estigma e o medo fazem parte do cotidiano de quem vive ali.
Falhas da segurança pública

Mais do que expor as falhas da segurança pública do Estado, esses números refletem a desigualdade social que separa as regiões periféricas dos bairros mais nobres da cidade. Isso porque, a incidência de crimes está diretamente ligada a uma combinação de fatores, como a ausência de segurança pública eficaz e condições econômicas precárias, que tornam as residências mais vulneráveis à criminalidade.
Bairros considerados nobres apresentam número menor de furtos, como Jardim Autonomista (4), Jardim dos Estados (29), Cidade Jardim (30), Itanhangá Park (41) e Carandá Bosque (81). Entre as regiões de maior poder aquisitivo, apenas o Chácara Cachoeira registrou um número mais elevado de ocorrências, com 161 casos.
Apesar disso, os menores índices de furtos correspondem a bairros e loteamentos com baixa densidade populacional, independente do padrão econômico dos moradores. Isso pode estar diretamente relacionado ao menor fluxo de pessoas e menor concentração de residências e comércios — fatores que naturalmente reduzem a ação criminosa.
Outro ponto que interfere na contabilização dos dados está na forma como os bairros estão categorizados. Alguns loteamentos estão inseridos dentro de macro regiões da cidade e, por isso, uma ocorrência registrada em um local específico pode aparecer atrelada a um bairro mais abrangente. A exemplo está o loteamento Vila Natália, cujos registros de furtos podem acabar classificados como pertencentes ao Portal Caiobá, bairro no qual está oficialmente situado.
Além disso, 432 ocorrências aparecem nos registros como “bairro não informado”, o que dificulta uma análise territorial completa e precisa da distribuição da criminalidade na Capital.
Os dados foram obtidos por meio de um levantamento do Jornal Midiamax, com base em informações públicas disponibilizadas pela Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública) via Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527) através do Portal Fala BR.
De veículo a cotonete, tudo é alvo

Os veículos seguem como o principal alvo dos criminosos, os dados evidenciam um total de 2.044 ocorrências entre janeiro de 2024 a março de 2025. Na segunda posição, chamam atenção os cabos de fibra óptica, com 1.959 registros — tipo de furto que, além do prejuízo financeiro, afeta diretamente os serviços de internet e telefonia.
Já os celulares figuram na 3° posição, com 1.779 ocorrências no período analisado. Essa alta indica que os eletrônicos de uso pessoal continuam entre os objetos mais visados.
Os documentos pessoais também têm presença significativa no levantamento, com 1.134 furtos de carteiras de identidade, 1.126 de cartões bancários e 1.022 de CPFs. Vale lembrar que em muitos casos, criminosos utilizam os documentos pessoais para cometer golpes e fraudes.
Até mesmo objetos inusitados aparecem na lista de objetos furtados, como cotonete, milho, foice, agulha, queijo, uniforme escolar e assento de vaso sanitário — todos com uma ocorrência registrada. Esses casos, no entanto, podem ter relação com os furtos em residências, onde há o roubo de diversos itens simultaneamente.
Quando o assunto são os roubos, os celulares despontam como os principais alvos. Entre janeiro de 2024 e março de 2025, Campo Grande contabilizou 892 ocorrências envolvendo esse tipo de aparelho. Os números reforçam o alto valor agregado dos dispositivos, tanto pelo custo quanto pelas informações pessoais contidas neles.
Na sequência, aparecem itens como cartões bancários (542 registros), carteiras de identidade (506), cédulas de dinheiro nacional (484) e CPFs (481). Já no caso dos veículos, a Capital registrou 206 casos de roubo no período analisado, número menor do que os furtos, mas ainda assim expressivo.
Entre os itens mais inusitados classificados como roubos estão uma mamadeira, touca térmica, afinador musical, saco plástico e até chumbo.
O que diz a PM?

Em nota, a PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul) informou que o patrulhamento preventivo é realizado dia e noite em todas as regiões de Campo Grande e demais municípios do Estado. A ação conta com equipes de radiopatrulha e Unidades Especializadas, como o Batalhão de Choque e o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais).
“Planejamos todo o policiamento com base na análise de dados estatísticos, extraídos dos Boletins de Ocorrência e dos atendimentos prestados à comunidade local”, destacou a corporação.
A PM reforça que é essencial que a população repasse informações sobre possíveis crimes ou situações suspeitas diretamente às equipes policiais, ou por meio do registro de boletins nas delegacias da região. Isso permite que os órgãos de segurança pública atuem de forma mais estratégica e eficiente.
Dicas para evitar roubos e furtos em residências e comércios:
- Mantenha o imóvel bem iluminado;
- Evite deixar grandes quantias de dinheiro no local;
- Redobre a atenção ao chegar ou sair da residência/comércio;
- Oriente familiares ou funcionários a identificar atitudes suspeitas;
- Invista em sistemas de segurança como câmeras e alarmes;
- Ao perceber algo fora do comum, acione imediatamente a Polícia Militar pelo 190.
Conforme publicação do Governo estadual, houve intensificação do policiamento repressivo e o monitoramento contínuo de áreas com maior incidência criminal, incluindo análise criminal diária. Além disso, em 2024, foram destinados R$ 9,3 milhões para a aquisição de novas viaturas destinadas ao CPM (Comando de Policiamento Metropolitano). Também houve a inserção de novos soldados para o patrulhamento da cidade.