Para banco, com nova equipe de gestão, um rápido ajuste de preços para baixo pode ser visto como um termômetro para o nível de intervenção daqui para frente
A Petrobras (PETR3;PETR4) anunciou nesta terça-feira (7) o primeiro ajuste do combustível fóssil desde que o novo presidente Jean Paul Prates tomou posse, no mês passado.
A petroleira reduzirá o preço médio do diesel vendido às distribuidoras em 8,89%, a partir de quarta-feira (8), após um recuo das cotações do petróleo na última semana ter deixado os valores da petroleira acima dos mercados internacionais.
Com o ajuste, o preço médio de venda de diesel A da Petrobras para as distribuidoras passará de R$ 4,50 para R$ 4,10 por litro, informou. “Essa redução tem como principal balizador a busca pelo equilíbrio dos preços da Petrobras aos mercados nacional e internacional, contemplando as principais alternativas de suprimento dos nossos clientes e a participação de mercado necessária para a otimização dos ativos”, disse a companhia.
Apesar de uma redução nos preços ser bastante esperada, já que o preço médio do diesel no mercado brasileiro continuava acima do praticado no mercado internacional, alguns analistas fazem alguns alertas sobre o momento, a magnitude do ajuste e o que isso sinaliza sobre a nova gestão.
No comunicado, a empresa acrescentou que sua política de preços busca evitar o repasse da volatilidade conjuntural das cotações e da taxa de câmbio, ao passo que preserva um ambiente competitivo salutar nos termos da legislação vigente.
No fechamento de segunda-feira, o diesel da Petrobras estava em média 16% acima da paridade de importação, segundo cálculos da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom). Já a gasolina da Petrobras, cujo preço foi mantido, estava 6% acima da paridade. A diferença ocorreu após os preços do petróleo Brent e WTI terem recuado cerca de 8% na semana passada.
Porém, para o Morgan Stanley, a decisão foi precipitada. “Com uma nova equipe de gestão recém-nomeada, um rápido ajuste de preços para baixo pode ser visto como um termômetro para o nível de intervenção daqui para frente”, avaliam os analistas. O banco reforça que os cortes absolutos e percentuais estão entre os maiores implementados pela empresa, e semelhantes ao movimento anterior feito no início de dezembro de 2022.
Os analistas destacam a justificativa do movimento dos preços internacionais e que com base nos dados divulgados pela ANP ontem, calcula-se que o prêmio do diesel em 11,6%, que agora vai para um prêmio marginal de 1,7% considerando a queda do preço.
Porém, o Morgan aponta que a Petrobras sempre mencionou que não leva em consideração os movimentos de curto prazo na implementação de sua política de preços, para evitar que volatilidade desnecessária seja repassada aos consumidores.
Os estrategistas de câmbio do banco preveem uma ligeira desvalorização do real no segundo trimestre de 2023 (2T23), enquanto o estrategista de petróleo projeta que o barril de petróleo brent subirá cerca de 4% até o 1T23 e cerca de 10% até o 2T23, em relação aos níveis atuais. “Tendo isso em mente, e o curtíssimo período de preços domésticos sendo superiores à paridade de importação, acreditamos que a decisão veio muito cedo e pode ser interpretada como um sinal de possível intervenção do novo governo”, afirma o banco americano.
Vale ressaltar ainda que, nesta terça-feira, a commodity teve alta pela segunda sessão consecutiva, impulsionada pelo otimismo sobre a recuperação da demanda na China, fala do presidente do banco central dos EUA aliviando o cenário sobre os aumentos das taxas de juros, além preocupações com a escassez de oferta após o fechamento de um importante terminal de exportação após um terremoto na Turquia.
O petróleo brent fechou em alta de 3,3%, a US$ 83,69 o barril. Enquanto isso, as ações PETR3 caíram 0,52% (R$ 28,70) e os papéis PN tiveram perdas de 0,62% (R$ 25,62).
“(O ajuste anunciado nesta terça-feira) era mais ou menos esperado, considerando que havia aberto uma janela”, disse à Reuters o presidente executivo da Abicom, Sérgio Araujo, ponderando, no entanto, que há um viés de alta no mercado internacional. “Eu acho que a Petrobras poderia ter dado uma redução um pouco menor, considerando que nos próximos dias esse preço deve subir”, adicionou.
Já o analista de petróleo e derivados da StoneX, Pedro Shinzato, afirmou à agência que o corte do diesel da Petrobras foi em linha com as expectativas do mercado. “A lógica de reajustes parciais, que parece ter sido adotada desde meados de 2022, é totalmente condizente com as condições de mercado, uma vez que temos volatilidade extremamente intensa nos preços internacionais de diesel desde março do ano passado”, disse Shinzato.
O repasse de ajustes da Petrobras nas refinarias aos clientes finais, nas bombas, não é imediato e depende de uma série de questões, como margens de distribuição e revenda, impostos e mistura de biocombustíveis.
Próximos cortes no radar
Para o Morgan Stanley, os cortes nos preços da gasolina podem vir a seguir, provavelmente no início de março.
“Não surpreendentemente, a Petrobras não anunciou uma redução nos preços da gasolina neste momento. Com os cortes de impostos federais estendidos até o final de fevereiro, acreditamos que a estratégia possa ser esperar até que os impostos sejam restabelecidos para anunciar um corte de preço na porta da refinaria, para compensar o impacto do preço na bomba”, avalia o banco.
O Morgan segue com recomendação equalweight (exposição em linha com a média do mercado, equivalente à neutra) para os ADRs (recibo de ações negociados na Bolsa dos EUA) PBR (equivalente aos ordinários), com preço-alvo de US$ 12,50 (potencial de valorização de 11,71% em relação ao fechamento da véspera).
Os analistas do banco esperam que o nível de ruído permaneça alto à medida que o novo governo começa a compartilhar sua visão e estratégia para as estatais. “Embora comentários e entrevistas recentes da equipe de transição do governo sobre questões de energia tenham trazido moderação na narrativa da intervenção, acreditamos que dividendos, capex e preços de combustível correm o risco de mudar, potencialmente para pior, o que nos deixa à margem por enquanto”, apontam.
INFOMONEY. Petrobras (PETR4): analistas do Morgan veem corte do diesel como precipitado e alertam para intervenção do governo. Disponível em:<https://www.infomoney.com.br/mercados/petrobras-petr4-analistas-morgan-veem-corte-preco-diesel-primeiro-prates-como-precipitado-e-alertam-intervencao-governo/>. Acesso em: 07. Fev. 2023.