Um projeto brasileiro inédito está usando a IA (inteligência artificial) para mapear teses e dissertações do Sistema Nacional de Pós-Graduação e identificar as capacidades instaladas de pesquisa em cada região, assim como os desafios que precisam ser vencidos na pós-graduação.

Chamada de Observatório da Agenda Nacional de Formação de Pessoal de Nível Superior e lançada pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), a iniciativa tem o objetivo de analisar onde atuam os mestres e doutores formados no Brasil e como eles contribuem para o desenvolvimento dos estados.

“O Observatório materializa a Agenda Nacional, permitindo que o Brasil olhe para si mesmo, com método, ciência e participação democrática, e pergunte: como fazer com que cada pesquisa, cada novo mestre e doutor transforme as realidades do nosso país?”, explica o coordenador da equipe que desenvolve o projeto, Marcelo Turine, ex-reitor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e pós-doutorando no ICMC (Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação), da USP (Universidade de São Paulo).

Como funciona
A Agenda Nacional começou a ser construída em 2023, quando a Capes percorreu os 27 estados brasileiros organizando oficinas para ouvir representantes de governos, universidades, setor empresarial e sociedade civil para identificar os temas que cada território considera estratégicos para a formação de mestres, doutores e pós-doutores no contexto do PNPG (Plano Nacional de Pós-Graduação) 2025-2029.

Desse processo, foram elencados 470 temas estratégicos, organizados em 20 macrotemas alinhados às vocações regionais e aos desafios nacionais.

A partir desse ponto, novas perguntas surgiram: a pós-graduação brasileira está, de fato, alinhada aos desafios estratégicos dos estados brasileiros? E em que medida forma pessoas nas áreas consideradas prioritárias pelos estados?

Foi para encontrar as respostas dessas perguntas que o Observatório da Agenda Nacional de Formação de Pessoal de Nível Superior foi criado, combinando as temáticas identificadas pelos estados com informações sobre trabalhos defendidos, docentes e produção intelectual. Tudo isso agora está disponível na Plataforma Sucupira.

Assim, segundo os organizadores da iniciativa, é possível ter uma visão clara das capacidades instaladas em cada região e das lacunas que ainda precisam ser preenchidas.

Inteligência artificial
O projeto reúne pesquisadores do ICMC e da UFMS, que ajudam a desenvolver soluções inovadoras de IA para o Observatório.

De acordo com o coordenador técnico, professor Ricardo Marcacini, esse é um trabalho que exige precisão e transparência.

“Estamos lidando com um volume monumental de dados. A IA permite identificar relações que seriam impossíveis de mapear manualmente, mas tudo isso só faz sentido quando há supervisão humana. Trabalhamos com modelos abertos, auditáveis e ajustados especificamente para gestão e governança de políticas públicas”, afirma.

Assim, a tarefa inicial envolveu analisar mais de 90 mil teses e dissertações e cerca de 1 milhão de itens de produção intelectual, cruzando esse conteúdo com os 470 temas estratégicos definidos pelos estados, considerando apenas os dados de 2023. Depois dessa fase, os modelos de IA atualizarão os dados do observatório anualmente.

Esses dados mostram onde existe capacidade instalada da pós-graduação brasileira, onde há lacunas e onde podem surgir parcerias entre regiões. “Também apontam caminhos para políticas de indução, novos programas e ações que dialoguem diretamente com as necessidades do país”, explica Alice Souto Maior, coordenadora da iniciativa da Agenda Nacional e da respectiva comissão na Capes.

Mato Grosso do Sul
Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, 1.387 mestres e doutores foram titulados em 2023. Desses, 524 atuaram em temas estratégicos identificados pelo Estado, com destaque para biodiversidade e recursos naturais. Os números também mostram que 55% dos titulados desse macrotema são mulheres, distribuídas em 26 programas de pós-graduação.

Em São Paulo, na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), 675 dos 1.101 titulados do mesmo ano foram mapeados em temas da agenda paulista, especialmente educação de qualidade com equidade, área que reúne 193 egressos de 24 programas distintos.

A expectativa é de que o Observatório subsidie decisões de gestores públicos e avance, futuramente, no mapeamento da trajetória profissional dos egressos da pós-graduação.

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